sábado, 6 de fevereiro de 2010

Sem título!

       Ana era uma pobre pedinte que morava nas ruas juntamente com seus três filhos. Há tempos que carrega a miséria da vida e o peso da pobreza era grande. Era uma mulher seca, característica que revelava o quão amarga era a sua vida E isso a deixava cansada, tornando-a uma mulher sem feições. Também nunca fora vaidosa. Sempre vivera com um lenço amarelo encardido na cabeça, escondendo as suas madeixas cor de canela. Ela só possuíra dois vestidos, mas sempre preferira usar o vestido azul com flores brancas que ganhara de uma senhora durante o Natal. Na verdade, agora o vestido tornara-se um trapo, entretanto, ela não se importava. Ela já não se preocupava com nada. Afinal, seu único interesse era a sobrevivência. E a esperança era o único desejo de mudança, era a única certeza para o amanhã. E não existia nada tão incerto quanto o amanhã. Veria a luz do sol novamente? E os olhos agonizantes dos três filhos? Aqueles os quais lhe davam forças para suportar a incerteza de todos os dias. A incerteza da felicidade, de um futuro melhor.
      Ana não possuíra nada, nem ao menos sonhos. Sempre achava que os sonhos eram luxo. E ela não poderia comprá-los. As crianças também não sonhavam. Talvez houvessem se alimentado dos sonhos em uma das inúmeras tardes de fome. Pobres meninos! Apesar de tudo, ela era forte e suportava tudo com muita coragem, pois sabia que seus filhos ainda dependiam dela. Tinha medo de perdê-los. Às vezes não sabia quando iria vê-los novamente. Eram sempre tão fracos e indefesos. Suas costelas amostra determinavam a constante pobreza instalada no cotidiano daqueles garotos, cuja diferença de idade era grande, porém a pobreza tornava-os iguais. Sujos! Pobres! Fétidos! Entretanto, para Ana eram meninos valiosos que simplesmente a tornavam rica. Embora essa riqueza não eliminasse as mazelas diárias, principalmente, a insistente fome. Por isso, Ana pensara que comer era uma questão de sorte. Quanto azar nesse jogo!
      Em virtude disto, Ana e seus três filhos costumavam falar muito pouco. Não existiam conversas paralelas. Falar doía, doía muito. Os gritos e choros de fome forçavam-lhes alguns sons. Quase imperceptíveis. Eles já não tinham força para uma comunicação duradoura. Eles já não se entendiam. Suas bocas não conseguiam fazer grandes movimentações. Então, poupavam qualquer tentativa de articulação. Assim, eles passavam, grande parte do dia, sentados e imóveis frente a um luxuoso restaurante francês, evitando qualquer movimento, amenizando a dor provocada pela fome. Apenas observando os carros, as pessoas apressadas para realizarem o consumismo desenfreado, as quais deixavam o tempo mais frio com a frieza diante daquela distinguível família. Consumiam produtos que Ana desconhecia e até considerava desnecessários. E, na maioria das vezes, eram. Assim, eles continuavam, ali, olhando para o nada, quiçá esperando a morte... Pobre Família!
       Naquele dia, o sol parecera não querer ajudar, estava tudo muito quente! E Ana já não soubera falar que não havia nada para satisfazer a fome dos seus três pobres indigentes. Oras, parecia um dia comum, mas ela estava desesperada. Aflição! Calor! Fome! Delírio! Ana sentia-se um fracasso, uma impotência diante da circunstância que lhe enfrentava naquele momento. Batia-lhe uma aflição agonizante. Além disso, a fome lhe fazia companhia. E parece que elas conversavam, buscando sugestões ou talvez soluções. Assim, diante de tal situação, ela decidira por seus filhos para dormir, em uma tentativa de que eles esquecessem a intensa fome. Então, eles foram dormir... E eles não mais sentiram fome.

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