quinta-feira, 13 de maio de 2010

Te procuro

Procura-se uma menina
Capaz de transformar dias de chuva em dias de Sol
Silêncios em seqüências sonoras dançantes
Através dos seus doces sorrisos que dissolvem
A monotonia da ausência instantânea.

Procura-se uma menina
Que compartilhe idéias transmitidas
Nas imagens de uma televisão
Com sintonia de abraços cálidos
Lapidados pela convivência.

Procura-se uma menina
Para vivenciar os ritmos harmônicos da nossa orquestra
Repleta de singelos
Movimentos coreográficos
Que são petrificados em momentos eternos futuros.

Procura-se uma menina
Que me faça experimentar o verdadeiro sabor da amizade.

sábado, 1 de maio de 2010

Sociedades (ir)racionais.


Lúcia ria muito de tudo e de todos. Sem motivos, mas ria. Era o que a consolava e fazia preencher o vazio que sentira. Passara a maior parte da sua vida enclausurada em seu quarto, o qual possuía paredes com cores vivas. Contudo, isto contrastava com o universo sombrio em que aquela menina se encontrava. Tudo tão vivo e ela tão morta... Seu reflexo era a sua melhor companhia. E elas conversavam. Conversavam? Até agora não entendera os reais motivos de sua isolação dos sorrisos sinceros estampados nos rostos das pessoas que não existiam para ela, dos raios solares que tocariam o seu corpo, do tempo.
Ela era uma menina de onze anos pertencente à uma família de classe média alta. Ela nascera saudável. Aparentemente! Sua família a acusava de louca. E explicavam para os amigos e parentes mais próximo que a menina perdera a sanidade mental. Estaria ela realmente louca? Não possuir uma mente saudável implica em não seguir as regras impostas pela sociedade?Entretanto, eles nunca a levaram ao médico. A sua mãe, uma mulher amarga devido as inúmeras crises do seu casamento infeliz, estava certa de que ela era um perigo à sociedade e por isso a dopava de medicamentos para que a filha passasse boa parte do tempo dormindo.
Todas as tardes, Lúcia quando acordará do longo sono produzido pela quantidade de medicamentos dados pela mãe, a menina se dirigia até à única janela do seu quarto para ver as piruetas dos pássaros amarelos naquela porção infinita do céu. Essas imagens foram o seu único consolo nas longas tardes trancafiadas em seu quarto. Lúcia começara a se convencer de que ela não estava preparada para aquele mundo. Desde então, perdera o motivo pela sua existência e não sentira mais fome. Já não comia mais. Aquela menina tornara-se pálida e bastante magra, seus olhos cor de jabuticaba refletiam a ausência de uma vida, havia apenas um corpo físico esperando por duas próximos... Ninguém notara a  grande mudança. Sua mãe não perceberá que durante dias a comida não fora desfeita. Aah, pobre menina que nascera para ser vítima... Vítima de que? E por que? Nem ela sabia, aliás nunca mais saberia...
No domingo, quando a família se preparava para sair, a mãe subiu até o quarto da filha para dopá-la. Tal ato agora se tornava automático. Porém, ela mal sabia que aquela seria o último medicamento e que aquela seria a última lembrança que teria da filha. Aliás, que filha? A mãe fechou a janela e desceu sorridente imaginando a felicidade que sentiria naquele dia. E lá no céu Lúcia voava feliz com os seus pássaros amarelos. Pela primeira vez, ela soubera ser livre.
Eles a consideravam louca e só porque eles a consideravam, ela era.