quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

(Prisioneiro em carne viva)


      Há muito tempo ele se sentia um prisioneiro sem saída. Entretanto, não um prisioneiro comum, daqueles que cometem atos, ou infligem a Lei e que posteriormente vivem presos dentro de uma cela. Não! Ele não havia cometido nenhum crime ou praticado atos ilegais. Até então, considerava-se honesto. Quiçá, ele realmente fosse. Não sabia quem realmente estava o julgando ou talvez soubesse, mas não poderia afirmar. Não tinha provas, apenas percepções. Estavam-no privando completamente da sua liberdade porque ele havia formado suas próprias opiniões. E elas não eram ilícitas. Eram apenas dele.
      Ele não se encontrava em uma cela normal, com paredes que delimitam o seu espaço, a sua liberdade. Nem ao menos existiam correntes ou algemas. O que existia era um corpo. O corpo daquele rapaz. Este, sim, o prendia, não lhe permitindo qualquer tipo de manifestação de idéias ou sentimentos. Suas vontades e desejos estavam condenados, visto que seu corpo os guardava para si como um baú. E isto o deixava sufocado, pois sempre que ele tentava se expressar, tudo voltava para dentro de si como uma espécie de rigidez do seu isolamento. Com isso, cada vez mais aquele homem se sentia aprisionado e isso o tornava apavorado. Ele sentia seus espaços diminuírem, na medida em que sua claustrofobia se agravava. Sim, ele era claustrofóbico e possuía inúmeras fobias, as quais o acompanhavam durante sua vida. Em virtude disto, ele tentou várias vezes fugir. Contudo, não podia fugir dele mesmo. Não havia saídas. Ele não sabia por quanto tempo estaria preso. Talvez quando suas opiniões fossem aceitas... Será que iria demorar? Não sabia. Apenas não aceitava permanecer trancafiado na sua prisão em carne viva, onde ele era palco de constantes lutas entre o seu corpo e suas idéias. Não sabia quem sairia vitorioso, pois apesar dos seus pensamentos serem mais ágeis, seu corpo era mais resistente. Esses perpétuos conflitos estavam-no destruindo lentamente. Então, pensou em se adaptar. Dançar no ritmo do seu corpo. Segui-lo ou talvez, aceitar as opiniões impostas. Desse modo, tentou reformular seus conceitos, abdicá-los. No entanto, não foi fácil. Não é fácil mudar o nosso próprio eu.
      Tudo isso é tão complexo de compreender. Confesso que nem ele entendia. Apenas tentava. Achava difícil entender o porquê que as suas idéias não estavam em perfeita sintonia consigo. Ou melhor, com seu corpo. Suas atitudes e ações não se mostravam mais coerentes com suas idéias, percepções e vontades. Uma verdadeira antítese dentro de um paradoxo. Em síntese, seu corpo se desligava de si. Não me refiro ao corpo como uma estrutura biológica, mas sim como um cárcere. No mais, ele... Ele era as suas idéias e o seu corpo era apenas uma casca ou talvez uma embalagem que futuramente chegará ao seu ponto de validade. Já a sua essência continuará conservada. Viva! Por que? Porque o tempo não destrói o nosso “eu”.

6 comentários:

  1. Ouw Rômulo, que explosão de criatividade, estou a-do-ran-do me deparar com mais um texto incrível toda vez que visito este blog! Maravilhoso de ver, você escreve muuiiito bem, quero seu futuro livro autografado viu?!

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  2. É um belo texto me senti como se tivesse lendo um livro com poucas paginas, mas muito complexo.
    As pessoas não podem ser prisioneirasde si mesmas e encarar a realidade e os medos são precisos em nossoas vidas.!
    Gostei do Blog!

    Se gostar de futebol acesse meu blog!
    www.fernandofutebolclube.blogspot.com!

    Abraço!

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  3. "O tempo não destrói o nosso eu". Arrasou, amigo! Muito bom na arte das palavras!

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  4. Adorei o texto, me identifiquei bastante. No fundo, todos nós acabamos ficando um pouco presos como o rapaz. Parabéns e obrigada pela visita :D

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