quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A maçã

Sempre optei por provar dos sabores mais intensos, aqueles os quais ardem no corpo e deixam marcas eternizáveis em nossa alma. O meu corpo assemelhava-se ao mosaico das desventuras amargas que me arrisquei a beber. Experimentar: eis a palavra chave! Não estou me referindo apenas ao sexo, o qual me utilizei para provocar discórdias familiares. Estou me referindo também ao prazer da dor, da tentação, do proibido.

Eu? Puta? Não, não! Eu nunca cobrei pelo sexo. Aliás, a companhia era o melhor preço. E isso era o meu ponto fraco, mesmo sabendo que eles procuravam me possuir...  apenas! Não estou dizendo que não gostava. Gostava, sim! Todos gostam de montanhas russas.

Quer um cigarro? (pausa) Bem, não lembro de ter cometido nenhuma crime. Ou melhor, eu nasci. Talvez esse tenha sido o meu maior erro. E nunca tive a oportunidade de pedir perdão. Talvez, nunca terei. Isso perdurou por toda a minha infância. Até o momento em que eu decidi cortar as raízes que me prediam ao meu passado. Tudo ficou mais claro, pois tive que me reinventar.

Analisar e avaliar o meu passado seria uma passo importante para me encontrar. Mas, já não viveria sem os meus vícios profanos. Deixe-me andar com a dúvida. Já faço isso a 23 anos. Não, não quero mais falar sobre isso. Todavia, sugiro que procure nos jornais. Talvez, este esteja estampado na prima capa... Minha vida sempre foi cobiçada pelos julgadores desejosos em atirarem a primeira pedra.

Por favor, não insista. Não busco por consolo, quero apenas desabafar. Não, não diga quem és. Será melhor assim. Não quero me apegar a ninguém. Será melhor pra nós dois. Será melhor pra você.

Sou um espécie de imã, que atrai venenos doces, porém nada atrativos para quem deseja perpetuar uma vida de conceitos pragmáticos, intermináveis carnavais e sorrisos parcelados. Era mais fácil seguir pro norte, mas eu procurei entrar pelo meu labirinto. Quem sabe... um dia alguém me compreenda.

Ah, vida maldita... Ah, autor maldito!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Maresia

Ah Maria!
Que encontrou no mar alguém para
Amar!

Casara-se com um bravo marujo
Exalando marfins
Beijavas as margens dos seus lábios de sal

Marcos, Marcos, Marcos
Deixamo-nos o mar a vida remar
Embarcamo-nos em seus mistérios
Afogando-nos os sobreviventes
Banhados na sede de viver

Revolto, o mar é.
Quebrou-se em ondas
Pérpetuas!
Magnéticas!
Frenéticas!
Quão traiçoeiro era o mar, maremoto!

Maré de desilusões, ilusões e martírios naufragados...

Oferto-te a mim
Também!
Leva-me como uma mariposa que pousa para repousar...

Em Março, no março, de março
Marasmo!
Acalmaria Maria a solidão?
Na amargura dos dias que te resta em vida
Reinventou o mar de tanto mergulhar os seus prantos

Mas Maria ainda o amaria?
O mar que roubou o seu amar...

Ah Maria!
Que encontrou no mar a sua
Sina!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Partiu-me!


Ela partiu...
Com seu sorriso hermético
Decifrando-me os dissabores dos nossos tempos, remotos

Ela partiu...
Com seus cabelos de vento
Sufocando-me no exílio dos meus sentimentos

Ela partiu...
Com seus lábios veneno
Tecendo-me labirintos de verdades efêmeras

Ela partiu...
Com seu olhar monótono
Dilacerando-me as delicias dos desejos transcendentes

Ela partiu...
Com seu corpo magnético
Incitando-me às volúpias vis

Ela partiu...
Com sua voz cálida
Paralisando-me no amargo fim ateu

Ela voltou.
Mas eu já não sei onde estou...
Quem eu sou?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Um mais um é um?





Ela era judia
Ele era alemão
Ela era cega
Ele fingia-se surdo-mudo
Ela curtia Beatles
Ele dizia-se eclético
Ela era simpática
Ele nunca sorria
Ela sempre “Bom dia!”
Ele dizia “Boa noite!”
Ela sentia os raios de sol
Ele amava dias de chuva
Ela gostava de gatos
Ele preferia cachorros
Ela era psicóloga
Ele repetia de ano
Ela bebia chá
Ele comprava Coca-cola
Ela coloria
Ele não tinha pincel
Ela queria sentimentos
Ele a desejava
Ela pedia
Ele mandava
Ele mentia
Ela acreditava
Ela confiava em Deus
Ele se questionava
Ela “por que?”
Ele “porque”
Ela, anos
Ele, dias
Ela, progresso
Ele, retrocesso
Ela, par
Ele, ímpar
Ela, oceano
Ele finito
Ela, liberdade
Ele, reclusão
Ela, exclamação
Ele, interrogação
Ela, plural
Ele, singular
Ela, amor
Ele, paixão
Ela sim
Ele não, talvez
Ela, hoje
Ele, amanhã
Ela, tchau
Ele, adeus
Ele primeiro
Ela depois
Ela Ele
Ele Ele.