sábado, 16 de janeiro de 2010

Abram as cortinas!


      O lugar estava repleto de pessoas. Parecia que naquela noite toda a cidade fora assistir ao grande espetáculo. Não, não era Natal. Era o circo que chegara à cidade. Havia muito tempo em que o circo não aparecia. As pessoas estavam exacerbadamente animadas. As mulheres ocupavam os salões de beleza e os homens selecionam seus melhores paletós. Todas as ruas da cidade estavam iluminadas. Afinal, era o circo.
      Dona Felícia, uma mulher magra e solitária, que tinha um grande sonho de ser mãe e ter três filhos, não obterá este sucesso pelo fato de nunca ter tido um namorado. Ela estava muito entusiasmada, já havia preparado tudo para o grande dia. Na verdade, um dia único para todos os habitantes daquela cidade. Principalmente para Dona Felícia, que apesar de possuir uma enorme herança deixada pelo seu pai, o ex prefeito da cidade, ela era uma mulher bastante solitária que vivia apenas de aparências. Por isso reservara o melhor vestido para aquela noite. Até mandara fazer um, porém a única costureira da cidade só possuía tecidos de cor escura. Entretanto, isso não abalou a animação de Dona Felícia. Nada abalara o desejo dela de ser feliz.
      Finalmente chegara o dia. Inúmeras pessoas esperavam pela grande atração do circo: O palhaço. E lá na primeira fila, encontrava-se Dona Felícia esbanjando seus belos sorrisos mecânicos, os quais iam se desconfigurando à medida que o palhaço foi colorindo aquele palco com alegria. Ah, o público verdadeiramente começara a sorrir. Tantos sorrisos brancos tornavam mais brilhantes aquele momento, que se fazia tão marcante para aquelas pessoas e para Dona Felícia também que assistia a tudo alegremente. Assim, aplausos e mais aplausos delimitavam a dança estratégica do palhaço e concomitantemente determinavam o fim. Infelizmente, os sorrisos desapareceram rapidamente, deixando aquele local com um ar sombrio. Mas Dona Felícia registrou tudo na sua memória. E ela tinha uma boa memória. Ela se lembrara da última vez em que sorriu de verdade. E como fazia tempo desde que esboçara um belo sorriso. Agora, ela poderia guardar aquele momento por um bom tempo, até que o circo resolvesse voltar novamente.


      E lá estava Dona Felícia com o seu sorriso fotográfico, pelas ruas da cidade, indo ao encontro da sua casa, quando, repentinamente, começou a chover e Dona Felícia tentava sem sucesso se proteger da chuva. Até que resolvera desistir e, então, continuou a caminhar, sorrir e relembrar da magia daquele palhaço, enquanto passava por um restaurante francês próximo à sua casa. Na calçada do restaurante, uma mãe repartia um único pão com seus três filhos. E a chuva já havia eliminado todas as cores daquele noite.
- Só sentimos a felicidade quando já não estamos mais cegos e podemos sorrir daquilo que distinguimos e realmente existe.

2 comentários:

  1. é engraçado como o palhaço, no fundo, sempre é o mais esperado.
    é um refúgio, nem que seja por apenas uns instantes, para uma pontinha de felicidade.

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  2. Que sensibilidade, Rômulo!
    Parabéns, tá lindo o blog!

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